FNM está de volta e fará caminhões elétricos
FNM está de volta, rebatizada de Fábrica Nacional de Mobilidade, com a promessa de produzir caminhões elétricos em Caxias do Sul (RS) a partir de novembro
A FNM está volta, mas, em vez de Fábrica Nacional de Motores, a sigla agora é de Fábrica Nacional de Mobilidades. Isso porque a marca, que saiu de cena no fim dos anos 1980, agora produzirá caminhões elétricos. A nova companhia promete iniciar as operações em novembro, em Caxias do Sul (RS). A FNM também oferecerá o RePower, como é conhecido o serviço de transformação de veículos com motor a diesel em elétricos.
A nova FNM é fruto de uma parceria entre os empresários José Antonio e Alberto Martins (foto abaixo) e a Agrale. Eles são filhos de José Antonio Fernandes Martins, que atuou como executivo da Marcopolo por 53 anos. Atualmente, Martins (pai) é um dos acionistas da fabricante de carrocerias.
Tanto a Marcopolo quanto a Agrale têm fábricas em Caxias do Sul. A cidade gaúcha é um importante polo industrial do setor de transportes. A Randon, fabricante de implementos rodoviários, e a Agritech Lavrale, que faz tratores, também ficam na região.
Nova FNM lança dois caminhões
Os caminhões da FNM serão feitos nas instalações da Agrale, que também fabrica caminhões e ônibus. Boa parte dos componentes, como baterias, motor e sistemas eletrônicos, será importada dos Estados Unidos. A montagem final vai ficar a cargo da FNM. Por ora, a empresa oferecerá dois modelos.
FNM
O FNM 832 (foto acima) terá Peso Bruto Total (PBT) de 13 toneladas e 6,2 metros de comprimento. No FNM 833 (abaixo), o PTB será de 18 toneladas e o comprimento, de 7,2 m. O motor elétrico terá potência equivalente a 355 cv. A autonomia total será de cerca de 130 km com as baterias “cheias”. Isso quer dizer que os caminhões serão voltados a operações urbanas rodoviárias de curta distância.
Os caminhões elétricos da FNM terão peças feitas de compósitos especiais e nióbio. É o caso de partes do chassis, freios, suspensões, rodas e componentes estruturais. O objetivo é aumentar a resistência e reduzir o peso. E, embora tenham visual que remete aos antigos FNM, os novos caminhões trarão tecnologias de ponta.
FNM não terá concessionárias
Segundo José Antonio Martins, o Zeca, haverá soluções como telas e sistemas conectados com os frotistas. Isso permitirá o monitoramento do veículo em tempo real. Entre outros destaques estão câmeras e sistema automático que reduz o risco de colisão, além de recursos de inteligência artificial. “Será um smart-truck (caminhão inteligente)”, diz Zeca.
Alertas de mudança involuntária de faixa de rolamento, de partida de veículos à frente, de distração do motorista também serão oferecidos. Atualmente, esse tipo de recurso está disponível apenas em automóveis de luxo e caminhões mais caros. É o caso das versões de topo dos cavalos-mecânicos pesados de Mercedes-Benz, Scania e Volvo.
A FNM não terá concessionárias. A venda será feita diretamente pela empresa, por meio de pagamento antecipado. A assistência técnica será prestada pela fabricante que irá até os cliente.
A nova FNM tem logotipo inspirado no da clássica fabricante de caminhões. E, após adquirir o nome, já providenciou o registro no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI).
Fenemê fabricava motores de avião
A Fábrica Nacional de Motores foi a primeira fabricante de caminhões do Brasil. Conhecida como “Fenemê”, a empresa surgiu em 1942, durante o governo de Getúlio Vargas, para produzir motores de avião. Sua criação era estratégica em meio à Segunda Guerra Mundial, que durou de 1939 a 1945.
Mas o primeiro motor só saiu da fábrica de Xerém, em Duque de Caxias (RJ) em 1946. Com o fim da Guerra e a deposição de Getúlio, seu sucessor, Eurico Gaspar Dutra, mandou suspender a produção de motores. A unidade teve o foco voltado á produção de peças para máquinas industriais e eletrodomésticos, além de geladeiras, compressores e bicicletas.
A FNM se associou à Italiana Isotta Fraschini e, em 1949, passou a produzir caminhões. Até então, todos os caminhões que circulavam no Brasil eram importados. O D-7.300, primeiro modelo da empresa, era um bicudo com motor a diesel e capacidade para 7,5 toneladas.
Parceria com a Alfa Romeo
Foram fitas 200 unidades, mas a Isotta Fraschini, que enfrentava dificuldades financeiras, parou de enviar peças ao Brasil. O FNM, então,se associou à Alfa Romeo, que na época pertencia ao governo italiano. Dessa união surgiu o FNM D-9.500, um cara-chata com capacidade para 9,5 toneladas. O modelo foi lançado em 1951.
Em 1958 foi lançado do D-11.000 (foto acima), derivado de um caminhão da Alfa Romeo na Itália. O modelo ficou famoso no Brasil e chamava a atenção por causa do visual “parrudo” e do ruído do motor de seis cilindros em linha totalmente feito de alumínio.
O dia 21 de abril de 1960 ficou marcado no Brasil pela inauguração de Brasília e pelo lançamento do FNM JK (abaixo). O primeiro automóvel da marca era baseado no Alfa Romeo 2000. O sedã de luxo, que mais tarde seria rebatizado de FNM 2000, era o carro mais caro feito no Brasil naquela época.
De volta para o futuro
Em 1968 a FNM foi privatizada e vendida à Alfa Romeo. A companhia continuou produzindo caminhões, automóveis (caso do 2150, sucessor do 2000), e chassis de ônibus. Em 1972, lançou os caminhões FNM 180 e o FNM 210.
Em 1973, a FIAT comprou 43% das ações da Alfa Romeo. No ano seguinte, o sedã 2150 foi substituído pelo Alfa Romeo 2300, modelo feito exclusivamente no Brasil. Em 1976, a Fiat assumiu o controle total da Alfa. Em 1979, os FNM 180 e 210 foram substituídos pelo caminhão Fiat 190.
Em 1985, sob administração da Iveco, que também pertencia ao Grupo Fiat, a fábrica da FNM fechou as portas. No local funciona atualmente uma unidade da Marcopolo. Curiosamente, após 25 anos uma ação de empresários ligados à encarroçadora gaúcha trará a marca FNM de volta à vidas vias brasileiras.
Fonte: Estadao.com.br